sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR - PARTE 1


RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR


1. Histórico

A reanimação tem sido uma aspiração humana há séculos. No século passado a reanimação foi uma prática comum na Europa, pela técnica de rolar vítimas inconscientes sobre barris, na tentativa de mover o ar para dentro e para fora dos pulmões. Foles também foram usados com o mesmo intuito. No início do século XX, a técnica mais usada era o método de pressão prona de Schafer, segundo a qual se pressionava clinicamente a região lombar para movimentar o ar entre os pulmões e o ambiente. Essa técnica permitia a manutenção das vias aéreas abertas pela ação da gravidade na base da língua. No entanto, essas e outras técnicas não eram eficientes pela baixa ventilação alveolar que ofereciam.

Apesar da ventilação boca-a-boca estar descrita na Bíblia (usada em recém-nascidos por parteiras) somente no início dos anos 50 ela foi redescoberta pelos Dr James Elam e Peter Safar nos Estados Unidos.

Nos anos 60 Kouwenhoven, Jude e Knickerbocker desenvolveram e apresentaram a técnica de compressão torácica externa. O acoplamento dessa técnica com a ventilação artificial boca-a-boca é, hoje, largamente utilizada na reanimação cardiorrespiratória como suporte básico de vida. A simplicidade dessa técnica, que requer apenas duas mãos e ventilações na boca, tornou-a altamente popular.

Em 1993 foi formada uma Aliança Internacional dos Comitês em Ressuscitação (ILCOR) pelas Sociedade de Cardiologia Americana (AHA), pelo Conselho Europeu em Ressuscitação (ERC), e pelo Comitê Australiano em Ressuscitação com o intuito de realizar estudos a partir de evidências cientificas.

No ano de 2000, o ILCOR realizou a primeira Conferência para um Consenso em RCP e em conjunto com a AHA lançou uma nova diretriz para RCP. Em 2005, após uma nova Conferência de Consenso, a AHA lançou outra diretriz com diversas mudanças para RCP baseadas em evidências científicas, dentre as quais a principal é a mudança da taxa de compressão-ventilação de 30:2, sendo que anteriormente era de 15:2.

2. Morte Clínica e Biológica

Ressuscitação cardiopulmonar é o conjunto de manobras realizadas para restabelecer a ventilação pulmonar e a circulação sangüínea, tais como, respiração artificial e massagem cardíaca externa, manobras essas utilizadas nas vítimas em parada cardiopulmonar (morte clínica).

A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) é também uma aspiração médica, porque a morte clínica não é seguida instantaneamente da morte biológica. Ou seja, no momento em que um paciente apresenta sinais de morte clínica (inconsciência sem resposta a qualquer estímulo e ausência de movimentos respiratórios e de pulso), há ainda viabilidade biológica dos órgãos internos. Dessa forma, se for possível manter a oferta de oxigênio aos tecidos e recuperar a respiração e a circulação espontâneas, antes da morte biológica dos tecidos, a reanimação é conseguida com sucesso (gráfico 1).

Esta tabela mostra a evolução da morte clínica até a morte biológica e os vários cenários possíveis após a RCP, segundo o tempo decorrido entre a parada circulatória e a restauração do fluxo sangüíneo espontâneo.

EVOLUÇÃO DA RCP PELO TEMPO DECORRIDO
TEMPO 5 MIN 10 MIN 15 MIN 20 MIN
CONSEQUÊNCIAS Consciente Sonolento Inconsciente Inconsciente
  Respiração Reanimação Respiração Apnéia
  espontânea espontânea espontânea Morte encefálica
  Neurológico Déficit Estado  
  normal neurológico Vegetativo


A viabilidade do cérebro é que define a vida humana. Na ausência de intervenção terapêutica, a morte clínica é rapidamente seguida de lesão biológica tecidual irreversível. Essa seqüência é um
processo que se estende de 5 a 20 minutos no cérebro, de 20 a 30 minutos no coração e por horas na pele. Devido à variação na longevidade dos diferentes tecidos corporais, a morte encefálica tem sido considerada o indicador da morte biológica.


Para alguns pacientes com parada cardiopulmonar e com funções neurológica e cardiorrespiratória previamente preservadas, a utilização rápida das técnicas de RCP, seguidas de cuidados médicos definitivos, pode ser salvadora. O tempo disponível de viabilidade dos tecidos antes da morte biológica é curto e o principal determinante do sucesso da RCP.


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